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Sobre ser autora e a melancolia

Sempre me orgulhei de ser uma pessoa alegre, mas, ultimamente, tenho sentido muitas coisas que lutei a vida toda para esconder.
Nossa sociedade tem uma noção autoimposta de que sentimentos como raiva, inveja e tristeza são ruins e que, portanto, devemos renegar essas coisas tanto quanto o diabo. Um tempinho de terapia (e um livro com deuses que representam emoções e concluem que o que é bom não existe sem a contraparte do mau) me ajudou a entender que não preciso ter vergonha de sentir.
Na verdade, eu preciso sentir.
Existe uma ideia em torno de autores publicados (uma ideia errada que também já alimentei) de que estar em uma casa editorial vai resolver todos os nossos problemas. Os problemas, no entanto, seguem lado a lado com o ofício da escrita; somos um pouco artistas e um pouco equilibristas, andando na corda bamba entre nossos sonhos e a realidade.
Essa Bienal do RJ trouxe, para mim, um desafio único. A corda de repente ficou ainda mais fina, e eu passei a carregar ainda mais peso: expectativas de sucesso, pressão para terminar um livro novo, desejo de encontrar leitores, limites financeiros, promessas e comparações… Só posso dizer que quando voltei para casa, desabei.
Ainda me encontro, por assim dizer, um pouco desabada. Essa melancolia da qual venho fugindo finalmente me pegou no colo e me embalou, e tenho tido longas conversas com ela (descobri que somos velhas conhecidas).
É estranho como um sentimento tido como “ruim” tem me ajudado a entender algumas coisas sobre mim e a profissão de escritora. Antes desse período que, para ser honesta, começou bem antes da Bienal, eu ainda pensava que precisava estar sempre feliz para escrever; que sentir outras coisas contaminaria meu trabalho.
Você talvez pense “que bobagem, Marina!”, e hoje eu sei. Hoje eu sei que escrever é um trabalho. É a alquimia perfeita entre a mecânica de digitar e o mergulho nas partes mais escuras da nossa consciência, e tenho feito esse trabalho mesmo melancólica.
Foi por esse motivo que escolhi, para a thumb desse post, a pintura “Living with Your Choices”, de Jeff Stanford (em tradução livre: vivendo com suas escolhas). Quando vi esse quadro pela primeira vez, me senti expectadora e executora; do lado de dentro, um pouco sombria e solitária, mas capaz de enxergar o amarelo da esperança lá fora.
Ser autora, para mim, é escrever mesmo nos dias em que meu peito está frio, porque sei que as palavras vão irradiar luz quando eu terminar. Eu olho pela janela da minha própria alma e vejo algo bonito, apesar de achar que a melancolia é um sentimento feio.
E, acima de tudo, eu espero. Sentada, porque não tenho pressa.
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