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Um novo livro, um novo dia
Sobre começar a jornada mesmo sem saber o destino

Eu tenho (tinha?) um problema muito grande com o perfeccionismo.
Longe de mim começar essa edição do Diário da Marina dizendo que meu maior defeito é ser perfeccionista, como se estivesse em uma entrevista de emprego, mas sei que vocês vão me entender porque, de um jeito ou de outro, todos lidamos com os efeitos dessa palavrinha aparentemente inofensiva.
per·fec·ci·o·nis·mo
sm
1 Exigência exagerada de perfeição em relação a si mesmo ou aos outros.
O perfeccionismo anda de mãos dadas com a insatisfação, mas enquanto essa última é, para mim, uma parte indissociável da arte em si (qualquer seja sua forma), o primeiro não passa de um agregado chato que ninguém convidou para a festa, mas aparece mesmo assim e ainda quer abrir os presentes.
Eu não poderia viver sem a insatisfação (com um final de filme, com um momento histórico, com a sequência de fatos da minha vida) já que é ela que me dá o ímpeto de sentar e escrever. Quanto ao perfeccionismo, faria um favor a mim mesma se vivesse sem ele, e esse foi o meu maior desafio quando comecei a escrever meu próximo romance.
Quando a gente sabe que uma história está boa de verdade?
A gente não sabe, rs.
Já disse em algumas oportunidades que, para mim, escrever é uma alquimia (a coisa mais próxima de magia que temos na vida real). Podemos conhecer a técnica, mas um bom livro se constrói sobre um fato interessante… Ao mesmo tempo, alguém que tem uma excelente história para contar pode acabar com um livro péssimo se não souber como fazer isso.
Uma boa história nasce, portanto, da mistura da técnica e de um fio condutor interessante com a personalidade, os desejos, os sonhos, o humor e as experiências da pessoa que escreve.
Quando comecei a escrever esse novo livro, achei que sabia onde queria chegar. No geral, meu processo é muito livre e eu só tenho uma premissa e o final em mente, então me sento, e vejo no que vai dar.
No entanto, fui descobrindo que eu não sabia onde ia parar, e foi um desafio imenso simplesmente seguir em frente, trilhando minhas próprias palavras, sem cair na tentação de voltar alguns capítulos para deixar tudo perfeito.
Talvez eu tenha fraquejado um pouco, mas segui. Com um pouco de fé e munida dos elementos do subgênero pelo qual me aventurei, caminhei e caminhei. As 5 mil palavras iniciais viraram 15, depois 30 e, por fim, um pouco por dia, mais de 80 mil. Parágrafo por parágrafo, um romance completamente perfeito na sua imperfeição, nasceu.
A lição que tirei disso tudo? Eu consigo!
Pode parecer engraçado para alguns que uma autora publicada diga uma coisa dessas, mas quando um escritor começa um livro novo, se torna o herói da própria jornada (leia A Jornada do Escritor, de Christopher Vogler).
E a cada nova palavra, surge a oportunidade de entender que está tudo bem não ser perfeito.
A thumb dessa edição do Diário da Marina é do filme Sussurros do Coração, do Studio Ghibli.
